quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Bêbado.

Eu olhei para o espelho e vi o reflexo do seu sorriso torto.
Olhei para a mesa e reparei na taça de vidro, cheia de marcas de batom.
Suspirei, deitei no sofá e fitei o teto, por longos minutos.
Levantei, espiei pela janela, mas nada lá me interessava.
Andei de um lado para o outro, perdido em minha própria casa.
Permaneci inquieto, até olhar para a mesa de novo.
Sentei, vi um assento e dois copos vazios.
Quis corrigir um dos erros.
Fiquei sóbrio e vi que estava sozinho, então tornei à beber mais um copo de vinho.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Livro de visitas


Vê se assina o livro de visitas, nem que for pra ir embora logo após devolvê-lo ao balcão.
Deixa tua marca, tua fala, teus trejeitos; já que é só isso mesmo que vai ficar.
A mão que assina, é a mesma que assassina e esmaga o meu coração.
Eu sei que, em cada balanço do seu 'adeus', tudo aqui dentro vai se desequilibrar.
Mas, no circo da vida, o palhaço sou eu - de Maio à Novembro.
Mesmo assim, tento buscar no passado o motivo amargo de ter te deixado pra trás.
Viro as costas e me lembro:
Você é só uma piada, da qual eu nem rio mais...

sábado, 6 de abril de 2013

Museu

Naquele momento, eu queria me afogar em bebidas, mas, para o meu azar, eu sou um ótimo nadador.
Tudo bem, eu sei que é um pensamento genérico, mas, não é isso que ser adulto significa? Encarar os seus problemas, ou se entregar ao primeiro copo de bebida? Ao último cigarro aceso?
Sinto falta daquela juvelinidade, dos saudosos tempos em que não haviam problemas – ou, ao menos, parecia não haver. Passado.
Nunca fui de deixar o passado de lado, como é possível notar. É como se eu fosse um prisioneiro, e as lembranças fossem como aquelas grandes bolas de ferro, acorrentadas ao meu corpo e mente. Estou sempre sentado na sala, encarando a entrada, como se alguma memória fosse, a qualquer momento, bater na porta para dizer: "olá".
Eu já senti sua falta várias vezes, em vários pontos. Bem, isso é inútil, diga-se de passagem. Se a saudade fosse algo bom, traria de volta tudo aquilo que um dia amamos: entes queridos, amigos, amores, momentos. Mas a saudade é só um museu obscuro, aonde é guardado tudo o que um dia você gostou, e então, cobram um preço alto pela exposição.
Naquele momento, eu me agarrei à nostalgia, e não queria mais soltá-la.

sábado, 23 de março de 2013

Homicídio Verbal

Você me mata em cada palavra dita. Mas, não é pra menos: sua mente é uma boa assassina.
Nessas horas, ninguém tem um alibi, as únicas testemunhas somos nós mesmos.
Um crime que deixa rastros no meu peito e manchas de sangue na minha memória.
Uma faixa de 'não ultrapasse' é colocada atrás de nós.
A Polícia Cármica veio nos prender. Ela quer que prestemos os depoimentos sobre o nosso martírio.
E então, você diz que tudo o que eu ouço, nada mais é do que o tiro que eu dei, o qual ricocheteou e voltou à mim. É o troco em balas que eu merecia, por tudo aquilo que já fizera antes.
Você diz que é tudo sobre a nossa dor, circulando entre a sala, se misturando ao ar. É a agonia que vem e volta, e não deixa espaço para nós respirarmos.
Mas, e se eu dissesse que a nossa dor, na verdade é toda minha? Eu estaria sendo egoísta ou solidário?

sábado, 9 de março de 2013

'While My Guitar Gently Weeps'


Sem você, eu me sinto uma guitarra sem o amplificador. É, eu sei, é uma analogia barata, mas eu não tenho culpa por não conseguir fazer tanto barulho, sozinho.
Eu usei todas as combinações de acordes que podia, experimentei diferentes ritmos, mas algo ainda faltava na minha música.
Deixei a guitarra de lado, deixei as cordas vibrarem, deixei meu coração bater em paz.
Nenhuma canção para assim, de repente. Eu seria ingênuo em pensar que com você seria diferente.
As notas voltaram à ecoar em minha cabeça, e eu abracei novamente a guitarra.
Tentei compor o refrão que faltava, mas sem a melodia da sua voz, os meus sons não tinham significado algum. Era como cochichar no meio de um tiroteio: totalmente inútil.
Desisti de fazer isso sozinho, já que as coisas funcionam de um modo melhor quando estou ao seu lado. Por dentro, eu acabei aceitando esse fato. Por fora, a minha guitarra ainda chorava, suavemente.









 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Momentos

Por um momento, eu quis mudar tudo. Mas, por fim, permaneci inerte. Afinal, não vale a pena refazer todos os meus passos, relembrar todo o passado, girar a roldana de um poço que nem tem mais água. Uma pena.
Por um momento, eu quis esquecer tudo. Mas, por fim, lembrei de tudo o que eu dissera antes. Como eu pude ser grosso, ao mesmo tempo que eu era tão sutíl? Era como te apunhalar pelas costas, pra depois lhe dar um beijo, logo antes de você tocar o chão. Você gostava, de certa forma, pois podia se vingar depois. Duas apunhaladas pelo preço de uma: eis a promoção.
Por um momento, nós sorríamos, mais do que chorávamos. Mas, por fim, eu estraguei tudo. Ou será que fomos nós quem estragamos? Queria ter a resposta para essa e todas as outras perguntas, mas o meu cérebro não colabora. Ele continua à se corroer nas mesmas dúvidas, nas mesmas questões, na mesma monotonia, como se fosse programado para não saber o que se passa.
Por um momento, eu fui condenado. Mas, por fim, me libertei. Será que a minha liberdade tem gosto melhor, do que aquele que tem quando eu estou preso à você?