terça-feira, 26 de agosto de 2014

Well-known Pleasures

O rapaz refletia sobre os pequenos prazeres da vida, os quais ele tivera a chance de vivenciar naquele ano - as danças desajeitadas, os sorrisos tortos e as pequenas injeções de felicidade.
Por um momento, ele ficou triste. Sentia que estava navegando em alto mar, em meio à tempestade, embarcado em um barquinho de papel, cheio de furos e remendas. Ele sabia que afundaria a qualquer momento.
Correu então para o convés da sua mente, pegou o telefone e tentou ligar em busca de socorro. Ele reconheceu a voz moça que estava do outro lado da linha, mas ela o colocou em espera. E o rapaz esperou. O barquinho chacoalhava, mas ele segurava firme ao telefone, assim como ele teria segurado em um colete salva-vidas. Enquanto não ouvia nenhuma resposta, estalava todos os seus dedos e se lembrava de outros pequenos prazeres da vida - as apostas bobas, as piadas ruins e os abraços longos.
 - Alô? - atendeu a moça, encerrando a árdua espera.
 - Eu preciso da sua ajuda! - suplicou o rapaz. - Meu barquinho está prestes à afundar!
 - Olha... - respondeu a moça, um pouco tímida. - Eu sinto muito, mas barquinhos não são mais a minha especialidade. Eu não posso te ajudar.
Assim que a ligação caiu, o rapaz ficou em silêncio. Fechou os olhos e lembrou de todos os bons momentos que vivera até ali. Lembrou dos rodopios daquele vestido florido. Lembrou daquele vai e volta. Lembrou das canções que acompanharam as danças incompletas. Conforme a tempestade ia se acalmando lá fora, ele foi lembrando do seu último e mais bem conhecido prazer: sempre continuar à navegar com o seu barquinho.

domingo, 3 de agosto de 2014

Miopia

Eu mal enxergo um palmo à minha frente,
mas insisto em ver um futuro pra gente.
Eu tento decifrar as letras miúdas no rodapé,
mas é tão difícil quanto tentar te entender...
Nos entender.
Eu coloco meus óculos, mas enxergo os teus erros.
Eu tiro os meus óculos e só vejo você.
Agradeço a minha miopia.